sábado, 18 de janeiro de 2014

Chapter 44


"Seria tão bom se alguma coisa fizesse sentido, só pra variar"
Não tinha mais sorvete azul no freezer. Minha perna já devia estar com um cheiro horrível. Eu já estava cansada de ficar em casa e tudo que eu conseguia sentir nesse momento era raiva.
Eu havia escrito uma carta de resposta para Austin, eu sabia que ele havia voltado da China e isso já fazia CINCO dias. Cinco dias que ele estava aqui e não havia visto me visitar. Na verdade, ninguém tinha. 
A semana de provas na escola havia começado então todos estavam perdendo um grande tempo estudando para as provas e terminando os trabalhos, mas eu achava que era melhor assim. Bia tentou vir me visitar duas vezes, mas nas duas eu fingi que estava dormindo. Não queria contar para ela ainda sobre a carta. Queria manter isso como segredo e eu não sabia se eu conseguiria manter isso em segredo se nós conversássemos. E quanto aos outros, eu não queria que me vissem toda desarrumada.
- Cheguei. - disse meu irmão da sala.
Era hora de por o plano em ação. 
Eu ainda não havia conseguido nada durante essas duas semanas, mas hoje eu tinha um bom plano pra conseguir descobrir.
- E ai Jess, trouxe o sorvete que eu te pedi? - perguntei.
- Pediu? - perguntou ele.
- Sim, eu pedi. - menti cruzando os braços. - Deixei uma mensagem na caixa postal, já que você não atendia o celular.
- Eu estava ocupado. - ele disse. - E ninguém olha a caixa postal. 
- Jeeeess, por favor. - eu disse. - Já faz quase uma semana que acabou.
Ele respirou fundo e pegou de volta as chaves que havia jogado em cima da mesa. E eu sorri indo abraçar ele, mas quando fui me afastar acabei me desequilibrando e ele me segurou.
- Desculpa. - eu disse. - Não é fácil andar com a perna assim. - eu disse a ele. 
- Tudo bem. - ele disse e deu um sorriso fraco. - Eu já volto.
Assim que ele saiu de casa eu tranquei a porta e peguei dentro do meu casaco o celular dele que eu havia pego quando fingi quase cair. Não havia sido tão difícil assim como imaginei, ainda mais porque meu irmão colocava o celular no casaco ao invés de por no bolso.
Coloquei a senha, que eu havia descoberto ontem enquanto assistíamos filme, e entrou.
Lá estava uma nova mensagem da Verônica "Amanhã você abre". Amanhã ele abre o que? Essa Verônica não podia ser a mesma Verônica que eu conhecia. 
Comecei a ler as mensagens e minha boca se abriu ao ver "onde você está? tem muitos clientes aqui". Então quer dizer que meu irmão estava trabalhando? Jess num emprego fixo? Isso só podia ser brincadeira. Ele sempre falava que iria trabalhar, mas nunca realmente trabalhava.
Deixei o celular em cima da mesa e sorri ao saber que finalmente meu irmão estava tomando um rumo na vida. 
Outra mensagem apareceu, dessa vez a mensagem era do Chris dizendo "Pegou as respostas pra amanhã?". Coloquei a senha e abri de novo as mensagens.
Chris: Pegou as respostas pra amanhã?
Chris: Cade você?
Jess: Ok, 100 conto dessa vez.
Chris: Fmz. 7h amanhã, no mesmo lugar esteja lá.
Jess: To com elas, entrego amanhã
Chris: To precisando das respostas de bio, quebra essa pra mim.
Jess: haha rlx, foi fácil
Chris: Valeu cara, você é incrível.
Jess: Consegui
Chris: Boa sorte, você consegue.
Jess: To entrando aqui, continua controlado as câmeras.
Chris: Tudo certo, é só entrar.
Não tinham mais mensagens, meu irmão havia apagado as outras. Eu não conseguia acreditar que ele era tão burro a esse ponto.
Ouvi o barulho do elevador e coloquei o celular no chão enquanto ia até a porta para destrancá-la. Consegui chegar no sofá assim que meu irmão abriu a porta.
- Ah... Está aqui. - disse ele pegando o celular do chão.
- Já trouxe o sorvete? - perguntei e ele colocou o pote no balcão. - Obrigada. - eu disse e ele foi pro quarto sem falar mais nada.
Pelo jeito que ele havia ido para o quarto, não sairia mais de lá até amanhã. E eu ainda tinha uma coisa para fazer. Fui mancando até o meu quarto e peguei o envelope.
Eu estava torcendo para não ter ninguém em casa, ou com certeza eles ouviriam os meus batimentos cardíacos e acabariam abrindo a porta. Então seria meu fim, já que eu havia até mesmo esquecido de colocar uma touca no cabelo.
Coloquei a carta por baixo da porta e sai dali o mais rápido possível, antes que alguém aparecesse. Minha sorte foi ter levado a planta do prédio comigo pra segurar o elevador.
- Droga. - eu disse quando senti o elevador subir.
Deixei a planta no canto perto de mim e o elevador parou no 14º andar, para uma senhor e uma senhora com uma criança pequena entrar.
- É a planta do corredor. - a criança falou e tive vontade de treinar basebol com a cabeça dela, fofoqueira.
A mulher olhou para mim e para a planta e tratei de olhar para o numero do elevador, torcendo para que ele voltasse logo para o meu andar.
- Boa tarde. - eu disse a eles me despedindo e fui empurrando a planta de volta para fora do elevador, o que eu consegui depois de muito esforço, ainda mais porque eu tinha uma perna que não tinha como dobrar.
Eu só esperava não vê-los de novo, tenho quase certeza de que pela cara de nádegas que eles fizeram pra mim haviam pensado que eu tinha saído de algum filme de terror.
Deixei a planta em qualquer lugar do corredor e entrei em casa, como eu esperava, meu pai ainda não havia chegado e meu irmão ainda estava no quarto.
- O sorvete! - eu disse assim que vi o pote na mesa, eu havia saído por pouco tempo, mas foi tempo suficiente para o sorvete ficar mole. Deixei ele no freezer e fui assistir tv para esperar o sorvete congelar. Por que não haviam feito maquinas congelantes? Se tivesse alguma coisa parecida com o microondas que ao invés de esquentar congelasse eu iria ser uma pessoa muito feliz e principalmente, sem mais sorvetes derretidos.
- Oi filha. - disse meu pai quando chegou em casa. - Me ligaram do hospital e disseram para eu te levar lá em três dias para tirar isso ai de você.
- Sério? - eu perguntei animada.
- Sim. - ele disse. - E já comprei suas passagens para ir visitar sua mãe no próximo fim de semana, você vai na sexta assim que sair da escola.
- Muito obrigada! - eu disse sorrindo e dei um abraço nele.
- O que fez hoje? - ele perguntou enquanto me ajudava a me sentar de novo.
- Nada de mais. - respondi. - E você?
- O de sempre. - ele disse e se sentou do meu lado para assistir comigo ao filme que tava passando.

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